Este é um espaço para acompanhamento de atividades, críticas e sugestões para os que fazem parte, ou não, do Projeto JECA (Maceió)
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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Projeto JECA de Maceió aprovado pela segunda vez

Por: Avanny Oliveira

O Projeto Interação Jovem – Juventude, Educação e Comunicação Alternativa (JECA), de Maceió, foi aprovado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), como projeto de extensão. O JECA foi aprovado pelo segundo ano consecutivo e já iniciou as atividades em uma nova escola.
O projeto, iniciado em 2007, recebeu o certificado de excelência acadêmica expedido pela UFAL, sendo reconhecido como um dos melhores projetos da universidade. O projeto, antes desenvolvido somente na escola Ovídio Edgard, agora expande suas atividades a uma nova escola – Geraldo Melo – ambas localizadas na periferia da cidade.

O JECA
O Projeto Interação Jovem, tem o objetivo de oferecer oficinas de comunicação a alunos secundaristas, de modo a incentivar o senso crítico dos jovens através de atividades Educomunicativas.  As atividades são desenvolvidas por facilitadores. Entre eles, um professor de comunicação, dois jornalistas e alunos voluntários de jornalismo e relações públicas da universidade.

Viração
Os alunos secundaristas de ambas as escolas, assim como os facilitadores contribuem mensalmente com a Revista Viração, que tem caráter jovial. Os participantes têm em suas bagagens, inúmeras matérias produzidas para a revista, assim como grandes entrevistas com personalidades brasileiras.

Ashoka
Em 2010, o projeto foi aprovado pela Geração Muda Mundo / Ashoka, e recebeu ajuda financeira para o desenvolvimento de quatro programas de rádio, com os alunos do projeto. Os programas tiveram como tema a Educomunicação,  a Educação de jovem para jovem, o Jovem e a política e Sexo e saúde; e contaram com a participação de entrevistados e de ligações da população ao vivo.

Contatos
Twitter: @jeca_mcz
Blog: http://jecainteracaojovem.blogspot.com/

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O que acha da moda dos coloridos?


Avanny Oliveira e Jhonathan Pino, do Virajovem Maceió (AL)*, e Elis Aquino, do Virajovem Rio de Janeiro

Com mais de dois milhões de acessos no MySpace, apenas em 2009, a banda Restart, conquista adolescentes e jovens do Brasil com suas músicas de pop-rock. Com versões  musicais que passeiam por melodias sóbrias e alegres, a banda não só agrada a galerinha pelo som que produzem, mas principalmente pelo modo como se vestem.
E esse diversificado estilo tem modificado o vestuário temporal da galera, que se integra ao simples uso das roupas no dia a dia. Além disso, o estilo de corte de cabelo também mudou: está mais liberal e despojado. As novidades lembram alguma coisa do estilo jovem dos anos 1980, onde o colorido era o mais importante no guarda roupa de meninos e meninas que aderiam a “pegada” da época. Hoje, a moda é apostar em peças com cores gritantes, como fazem os integrantes do Restart, mas também do Cine, Replace e Hevo 84, por exemplo, que usam e abusam das cores sem se preocupar com a combinação.
Aos poucos, os jovens dessa nova tribo repaginaram o visual ao andar com o cabelo “bagunçado” e assumindo a fase colorida da moda. E há quem diga que essa fase da adolescência é um importante componente para a formação da vida. No entanto, no mesmo momento de sucesso por qual passa o movimento colorido, também pipocam debates sobre o gosto, um tanto ousado, adotado por eles.
E para saber mais o que pensa a moçada, o Virajovem foi ouvir a opinião dos jovens sobre o assunto. Confira!
O que acha da moda dos coloridos?

“Os adolescentes que curtem a nova moda têm muita influenciam de seus ídolos em basicamente tudo, e isso faz com que a sua personalidade mude cada vez mais.”
Jhoanyne Wedylla, 13 anos, União dos Palmares (AL)

“Quem é fã deles passou a se vestir igual, usando calças coloridas! Essas novas bandas vieram para mostrar que devemos aceitar todo mundo do jeito que é, com suas diferenças.”
Faah Araújo, 16anos,  União dos Palmares (AL)

“Acho que tudo isso é produto dessa sociedade prioritariamente consumista em que vivemos. As bandas que hoje fazem sucesso têm uma influência temporária sobre os adolescentes e os jovens em geral.”
Jacqueline Freire, 25 anos, Maceió (AL)

“Acho que eles são um modelo americano, que vem passado de país a país: o cabelo, as roupas... e esse tipo de coisa influencia muito o seu modo de vestir e falar. As pessoas têm ficado muito sérias em relação a banda, mas é música jovem.”
Andira Miranda, 13 anos, Maceió (AL)

“Algumas pessoas passam a gostar desse tipo de música só porque outros gostam. O Restart quis se destacar, mas não buscou ter qualidade para isso. Preferiu ganhar atenção pelo visual extravagante.”
Rayssa Oliveira, de 16 anos, Rio de Janeiro (RJ)

“As músicas são legais, os músicos são bonitos e o estilo de roupas é muito bacana.”
Vitória Nascimento, de 13 anos, Rio de Janeiro (RJ)

“Acho muito diferente, é uma nova tribo. Não curto muito esse jeito de se vestir, pois é muito chamativo. Além de ser uma moda temporal, por conta dessas bandas atuais.”
Henrique Souza Andrade, 17 anos, São Paulo (SP)

“Primeiro veio o estilo emo e, quando acabou, o povo começou a inventar moda, deixando o cabelo crescer e com franja na cara. Pra que uma calça laranja com camiseta azul? É para chamar a atenção.”
João Felipe, 18 anos, São Paulo (SP)


Para ler no busão
A Moda e Seu Papel Social: classe, gênero e identidade das roupas, de Diana Crane (Editora Senac)
A autora traça um histórico das relações que mediaram à criação e as transformações no uso da moda, desde sua origem, identificando de que forma o vestuário de cada época contribuiu para a construção da identidade do indivíduo, mediante sua correspondência com valores que cada pessoa escolhe seguir.


Faz parte
Uma declaração feita pelo baterista do Restart, Thomas, criou polêmica nas redes sociais. Em entrevista ao um programa de TV, em março, o jovem comentou ter interesse de tocar no Amazonas para saber se havia civilização no Estado. "Imagine você tocar no meio do mato! Nem sei como é o público de lá, não sei se tem gente, civilização...", falou. Após muita repercussão na internet, o músico usou o Twitter para um pedido de desculpas. "Galera, eu disse que achava que nao tinha ninguem lá! Não desvalorizei a galera de lá, não! Tenho muita vontade de conhecer Manaus, o Acre...", disse. Thomas também comentou que a frase dita por ele foi tirada de contexto e editado  de forma mal intencionada por alguém que não gosta da banda. O Restart tem show programado para este mês em Manaus.

terça-feira, 12 de abril de 2011

As várias vozes de um homem só

Responsável pela versão brasileira de famosos personagens de filmes e desenhos, o Wendel Bezerra fala sobre sua paixão pelo trabalho de dublagem

Avanny Oliveira, Alan Fagner, Anyelle Cavalcante e Walisson de Oliveira
do ViraJovem  de Maceió (AL)

Aos 9 Você já se perguntou sobre quantas vozes uma pessoa é capaz de imitar? Oitenta, talvez? Bom, para o dublador Wendel Bezerra é possível. Com mais de 28 anos de carreira, ele possui uma extensa lista de personagens a quem emprestou sua voz. E pode ser muito provável que você já tenha ouvido o trabalho de Wendel por muitas vezes. Em seu currículo, estão as vozes do Bob Esponja, Goku (Dragon Ball Z), Jackie (As Aventuras de Jackie Chan); Ian Somerhalder (Boone Carlyle na série Lost) e Robert Pattinson (Edward Cullen na saga do filme Crepúsculo).
Pela voz dada ao Bob Esponja, Wendel venceu em 2009 o prêmio de Melhor Dublador de Protagonista durante o Prêmio Yamato, considerado a premiação máxima da dublagem brasileira.
  
Viração: Com quantos anos você começou a fazer dublagem?
Wendel Bezerra: Apesar de ter feito algumas gravações antes,
onsidero meu início da dublagem com oito anos e, desde então,
rou rotina na minha vida.

Mas como foi isso? Você se inscreveu em algum teste?
Quando nasci, meus irmãos já faziam teatro, comercial, novelas... então com quatro anos eu participei de uma peça de teatro e segui essa carreira. Fui conhecendo pessoas da área de dublagem, e um dia eles pediram que eu fizesse uma gravação. Como eu já estava acostumado a ler textos e a interpretar, não tive dificuldades nesse teste. Depois, fui pegando a 'manha' da dublagem.

Antes de começar a dublar você atuava pra você começar a dublar um personagem é o mesmo processo de construção da dublagem?
É mais fácil, mas é mais complicado! (risos) Porque você como ator quando constrói o personagem é difícil você encontrar ele, você faz e vai construído como ele fala, como ele faz, como é que ele age, então é difícil.  Agora como dublador o personagem já foi construído o dublador só vai imitar, porém a dificuldade é você dublar no ritmo e isso é muito difícil, você dublar preso ao trabalho que um ator já fez.Dublar eu acho mais difícil.

Qual foi o personagem que mais gostou de fazer?
Fica até parecendo conversa furada, mas é verdade: cada personagem é quase como um filho. Mesmo que seja o vilão, o pior cara do mundo, se você consegue entrar na alma do personagem, você torce por ele. Agora, os que tenho mais carinho...o Goku, com certeza, o Bob Esponja, o Sean Astin (do filme Senhor dos Anéis), o Jackie (do desenho Aventuras de Jackie Chan). Apesar de não ser omeu filme favorito, gostei de fazer o Edward Cullen (em Crepúsculo). São tantos que eu acabo esquecendo, mas esses com certeza foram muito bons de se fazer. E, por muitas vezes, passei a gostar do trabalho dos atores que acabo interpretando. São trabalhos que, quando chego no estúdio e vejo que é determinado ator, me dá mais ânimo de fazer.

E qual foi o mais difícil?
Os que eu mais gosto, são na verdade, os mais difíceis. Fazer o Goku é difícil porque o sincronismo é complicado. Os vídeos que recebo são em espanhol, inglês e japonês, e  isso atrapalha. Você ouve uma coisa e fala outra, em um outro ritmo. O Bob Esponja tem aquela voz que machuca um pouco a garganta, além de ter uma dinâmica muito louca, fala baixinho, grita, berra... Agora, um que eu não gostava de fazer era o Ryoga, do desenho Ranma ½. Ele gritava muito, com falas muito grandes. Era muito trabalhoso ficar quatro horas no estúdio falando daquele jeito, e isso me desgastava demais.

E quais os cuidados que você costuma ter para preservar a voz?
Primeiro, beber bastante água. Não como chocolate antes de trabalhar, porque ele é o pior, gruda nas cordas vocais e demora para sair. Também durmo e descanso bem, o que ajuda a dar uma renovada na voz.

Mas aconteceu de você perder a voz antes de fazer algum trabalho?
Sim. Uma vez eu peguei uma gripe e fiquei uma semana sem fazer nada. Mas às vezes, mesmo estando um pouco doente, é preciso gravar por conta do prazo de entrega do trabalho. Aí, acaba estragando a voz de novo, e nesse processo já cheguei a passar um mês sofrido.

As pessoas reconhecem sua voz na rua?
Muito por conta do Goku. Já aconteceu em loja, aeroporto...

Tem um vídeo no YouTube em que você dubla o Jack Chan, o Bob Esponja e o Goku no supermercado, que está fazendo sucesso. Como surgiu essa ideia?
(Risos) Eu nem lembro em que lugar do Brasil eu fiz aquilo. A galera pede muito que eu faça a voz de algum personagem, e acabo fazendo improvisos. Nesse caso foi assim. Um dia recebi um link pela internet e lá estava esse vídeo.

Como foi dublar o Goku?
Eu ainda não sabia o que era o Dragon Ball Z, ai eu fui me informar e vi que era uma coisa nova, mas que tinha uma serie que antecedeu, e comecei a dublar meio por fora. Ai, comecei a me apaixonar pela história do desenho. Então, como comecei a gostar da série, eu ficava lendo o texto das outras cenas para saber o que iria acontecer. O Goku foi um 'baita' presente pra mim. Me apaixonei pela série e pelo personagem. Eu já fui para vários cantos do Brasil e hoje estou aqui com vocês de Maceió, muito por graças a ele. Um dos presentes que ganhei em 28 anos de dublagem foi o Goku.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Agora você encontra a Vira em bibliotecas públicas

Frequentadores de bibliotecas públicas, Pontos de Cultura e de Leitura do Brasil passam, a partir de fevereiro, a contar com uma assinatura mensal da Viração. Ao lado de outras publicações, a Vira foi uma das revistas selecionadas pelo Edital de Periódicos de Conteúdo Mais Cultura, do Ministério da Cultura (MinC), e irá destinar por durante um ano sete mil assinaturas para os pontos culturais públicos indicados pelo MinC. 


Revista também estará disponível, a partir deste mês, nos Pontos de Cultura e de Leitura do Brasil

Lançado em 2010, o edital selecionou 12 publicações, entre 60 projetos enviados, que irão circular de fevereiro de 2011 a janeiro de 2012. O investimento total do governo federal será de R$ 5,2 milhões. Além da Revista Viração, foram contempladas as revistas Fórum, Brasileiros, Cult, Rolling Stone, Raça Brasil, Piauí, Carta na Escola, Le Monde Diplomatique Brasil, Caros Amigos, Almanaque Brasil de Cultura Popular eJornal Rascunho.
Segundo o MinC, o objetivo do edital, que faz parte do Programa Mais Cultura, é "popularizar materiais de leitura, estimular o hábito da leitura e despertar o pensamento crítico, disponibilizando publicações com conteúdos diversificados e de qualidade a populações urbanas e rurais, frequentadoras de espaços culturais públicos". Como condição de participação, os selecionados devem disponibilizar, simultaneamente à chegada em bancas ou aos assinantes, todo o conteúdo impresso na internet (ou indicar aos novos assinantes o espaço onde foi publicado). O conteúdo da Viração está em www.issuu.com/viracao.
Criada há quase oito anos, a Vira circula mensalmente em todo o País e é produzida de forma colaborativa e participativa entre adolescentes, jovens e comunicadores presentes em 22 Estados e o Distrito Federal, utilizando técnicas educomunicativas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Juventude plugada

Avanny Oliveira, do Virajovem Maceió (AL)*
 
Espalhados pelo Brasil, os Conselhos Jovens da Vira realizam ações que envolvem a juventude local. Nesta edição, você fica por dentro do núcleo de Alagoas

O Conselho Jovem da Vira em Maceió (AL) é formado pela galera que participa do projeto Interação Jovem – Juventude, Educação e Comunicação Alternativa (Jeca), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), baseado em princípios da educomunicação e visando o estímulo da produção midiática
por jovens de uma comunidade local. Participam do projeto estudantes voluntários de diferentes cursos da Ufal e da Escola Estadual de Ensino Médio Ovídio Edgard, localizada no bairro Tabuleiro dos Martins. Entre as oficinas de comunicação realizadas ao longo de 2010, estavam a de redação, novas mídias, jornal mural e rádio, com o intuito de despertar nos alunos a produção de conteúdo jovem e com uma linguagem própria.
O Jeca é reconhecido pela Ufal como atividade de extensão universitária e conta com a  coordenação do professor Antônio de Freitas e a orientação do jornalista Jhonathan Pino. Para completar essa iniciativa, a Rádio Comunitária Martins FM 87,9 e o Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Comunicação e Multimídia (Comulti) tambémparticipam do projeto.A parceria com a Vira acontece desde 2009 e possibilitou a troca de muitos conhecimentos na forma de produzir mídia jovem. Os integrantes do Jeca de Maceió também já participaram de dois encontros nacionais realizados pela Viração em São Paulo (SP). O último, que ocorreu em outubro de 2010, os estudantes Alan Fagner, Daniel Silva, e o jornalista Jhonathan Pino representaram o conselho no evento.
Na ocasião, o professor coordenador do projeto destacou a importância desse encontro. “A atividade vem reforçar a educomunicação e a ‘troca de olhares’ culturais entre os jovens, fortalecendo os valores dos envolvidos na comunicação”, disse Antônio Freitas.Ferramentas digitais Nas oficinas realizadas com os alunos do Ensino Médio, a prioridade é a utilização das redes sociais e dos blogs. Uma forma de aproveitar o potencial que esses espaços oferecem para a divulgação de notícias. Os jovens também produzem um jornal mural na escola onde estudam, convidando novos estudantes a participarem de todo o processo de produção. E, para 2011, muita coisa promete!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Agora por nós mesmos

 Jhonathan Pino, do Virajovem Maceió (AL)*

O cineasta Cacá Diegues e a produtora Renata Magalhães falam sobre cinema e ação policial no Rio de Janeiro

Durante o 3º Seminário Internacional da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), realizado em novembro de 2010, um dos nomes mais aguardados pelo público foi o do cineasta Cacá Diegues. Ele veio com a sua esposa e também produtora, Renata Almeida Magalhães, para a divulgação do longa-metragem 5 x Favela: Agora por nós mesmos, feito pela produtora do casal e que reuniu cinco jovens cineastas e moradores de comunidades do Rio de Janeiro para atuarem no roteiro e na direção.
Essa produção foi baseada em um filme de nome homônimo, rodado em 1961, dirigido por jovens da classe média do Rio de Janeiro, que ao focalizar a realidade das favelas cariocas em cinco diferentes histórias, acabou dando novos rumos ao cinema brasileiro e serviu de marco para o início do Cinema Novo no País.
A segunda versão do 5 x Favela foi produzida por jovens cariocas moradores das favelas retratadas, que foram responsáveis pelo roteiro e direção de outras cinco histórias com a visão própria dos moradores. Foi por isso, e pela qualidade do longa-metragem, que a produção vem chamando a atenção em festivais de cinema consagrados no mundo, como os de Chicago e Cannes.
Em sua última passagem por Alagoas, além de participar do Seminário na Ufal, Cacá madrugou no Corujão do Cine Sesi e recentemente recebeu a Medalha do Mérito da República Marechal Deodoro da Fonseca, cedida pelo governador Teotônio Vilela Filho no Memorial da República.
Apesar de ter vivido em Alagoas só até os seis anos de idade, o cineasta não esquece as origens: filmou longas em Alagoas, como Deus é Brasileiro (2002) e Joana Francesa (1973) e abordou o Estado em vários outros filmes, como Ganga Zumba (1964) e Quilombo (1984). Atualmente Cacá e Renata estão iniciando uma produção inspirada na poesia de O Grande Circo Místico, de Jorge de Lima.
Os dois concederam uma entrevista à Vira que, apesar de ter sido feita no começo de novembro, antecipa algumas questões que vieram à tona com a megaoperação policial que expulsou os narcotraficantes do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ).

Viração: No início do filme 5 x Favela, uma mensagem diz que “depois dos policiais, agora é a vez dos moradores da favela falarem sobre a realidade deles”. Essa série de filmes com a linguagem das comunidades tem aumentado no Brasil. Esse tema gera certo incômodo nos produtores de filmes com o foco nos policiais?
Cacá Diegue:: Na verdade, existe hoje um certo estereótipo da favela carioca. Um clichê da favela. E é claro que o noticiário foca mais no lado emocional e escandaloso, ou seja, na violência. Mas isso não significa que aviolência está presente o tempo todo. Apenas 0,02% da população de uma favela está ligada ao tráfico, mas são eles que controlam o espaço. E o resto dos 99,98 %, que são pais de famílias, pessoas que querem estudar e crescer na vida, mas estão prejudicados por essa situação. Eles precisam ter voz também. Então, a ideia de 5 x Favela foi fazer com que os jovens fossem porta-vozes de suas próprias vidas e recuperassem a sua própria identidade.

Você escreveu, no jornal O Estado de S.Paulo, sobre a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades do Rio de Janeiro. Você acha que essa ação trouxe grandes mudanças?
Cacá: A UPP é o primeiro projeto de segurança pública válido para as favelas do Rio de Janeiro. É um passo importantíssimo, pois recupera um território ocupado pelas armas. Mas se o Estado não trazer saúde, educação, saneamento básico etc., não vai adiantar nada, porque os meninos que estão sem emprego e precisam de renda vão para o lado do crime. Acabamos de fazer um documentário (4 x UPP) sobre esse assunto, dirigido por quatro diretores do 5 x Favela para dizer que a UPP é o primeiro passo para a mudança da realidade carioca que realmente tem valor. 

Qual a maior diferença da primeira versão do 5 x Favela (1961) para o filme atual, além da classe social dos diretores?
Cacá: A diferença basicamente é essa mesmo, pois enquanto o filme original era um filme generoso, que acabou sendo um marco para o Cinema Novo, tinha um olhar de fora da favela. A versão atual não, pois tem um olhar de dentro da favela, das pessoas que moram lá. Portanto é um olhar diferente. Não estou dizendo que a outra visão é inválida e acho perfeitamente legítimo que os cineastas de classe média queiram fazer filmes como o 5 x Favela. Mas é preciso que as pessoas de dentro das favelas também possam ter essa oportunidade.
Renata: E isso só foi possível quase 50 anos após o nascimento do chamado cinema moderno. Eu acho que faz todo um sentido, é uma coisa que desenha um olhar muito bacana que o cinema tem.
O número de filmes que vocês produziram sobre Alagoas é bem expressivo, e agora vocês estão planejando um longa a partir do poema O Grande Circo Místico, de Jorge de Lima. 

Por que esse grande interesse cinematográfico por Alagoas?
Cacá: A minha família, com exceção dos meus pais, está toda aqui em Maceió, e até os meus 13 anos eu passava as minhas férias aqui na capital. Meu pai, um antropólogo e escritor, nos fazia ler sobre o Estado e, nisso, ganhei uma formação cultural. Também viajei muito por Alagoas com ele, conhecendo tudo muito bem. Tenho laços sentimentais aqui. Mas a base do meu trabalho é no Rio de Janeiro. 

O filme O Quilombo, por exemplo, foi gravado no Rio de Janeiro, mas cita uma história de Alagoas.
E o filme que faz referência à obra de Jorge de Lima?
Renata: É só um poema e está dando um trabalho (risos)! A gente ainda está no começo. 

Ele vai ser filmado aqui no Estado?
Cacá: Ainda vamos ver, pois só vamos começar a gravação no segundo semestre de 2011. Não
tem muita coisa decidida. 

*** Matéria publicada na Revista Viração Nº68, Janeiro de 2011. também disponível para dowload.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Vidas Ligadas por um Rio


Daniel Silva, Elaine Lira, Jhonathan Pino, Roberta Batista e Thaís Magalhães, Virajovens de Alagoas.

Um mês depois das enchentes que castigaram milhares de famílias nos Estados de Pernambuco e Alagoas, deixando mais de 100 mil pessoas desabrigas e quase uma centena de mortos e desaparecidos, o grupo da vira em Alagoas foi a Murici, cidadezinha de 27 mil habitantes que fica a 51 km da capital, Maceió, e uma das mais atingidas pelas enchentes.
 Logo na entrada da cidade é possível ver um varal com milhares de roupas estendidas nas cercas das fazendas ao redor da cidade. Em frente ao varal coletivo, estão centenas de desabrigados ocupando quatro prédios que foram construídos para servir de rodoviária e galpões para futuras instalações de indústrias têxtil na cidade, e que agora servem de abrigo para essas pessoas.
Um dos desabrigados é Antônio Carlos Rufino Moreira, 16 anos. O encontramos de frente a um dos galpões com seus atípicos olhos azuis que tanto encantaram as meninas do grupo da Vira. Quando o vimos pela primeira vez, ele estava encostado num dos galpões, olhando pacientemente para aquele amontoado de gente que se ocupava nas caixas d’água, lavando suas roupas e dando banho nos menores em frente ao galpão. Dezenas de caixas d’água foram ali colocadas para suprir uma das primeiras necessidades daquelas pessoas que haviam fugido das águas do rio Mundaú.
Barulho, mau cheiro, brigas, tentativas de roubo: “Aqui acontece coisa que até Deus duvida”, nos falou a mãe de Rufino, Maria da Silva, 46. No meio de tanta bagunça, os olhos azuis de Rufino chamavam a atenção: ele parecia apenas admirado como tanta coisa havia mudado em apenas um mês na sua vida. Quando as águas do Rio Mundaú estavam subindo, no dia 18 de junho, Rufino partiu junto com os seus três irmãos com as águas pelos joelhos para a Usina São Simieão, local mais alto onde poderiam ficar mais seguros.
Sua mãe, dona Maria, não resistiu à curiosidade: preferiu ficar e passou três dias em cima da casa esperando a água baixar. “Fiquei pra ver a enchente, porque nunca tinha visto uma.” Quando desceu do telhado, a água ainda estava batendo nos seus ombros. Maria foi avisada por populares que haveria a cheia. Mas ela preferiu ficar para ver. “Porque eu era curiosa, mas agora, graças a Deus não sou mais. Eu quase morri!”, revela Maria com um certo humor negro.
Ela recebeu ajuda de um vizinho, que colocou uma escada para que Maria e mais três vizinhos ficassem em cima da casa. “Não teve socorro não. O helicóptero passava, a gente gritava, mas ninguém foi socorrido”, disse ela. Maria sobreviveu graças ao mercadinho que um amigo tinha. “Nós acabamos com a comida da venda de um amigo muito bom que tenho. Comemos farinha e tomamos refrigerante durante todos os dias,” disse ela. Quando desceram, fizeram fogo para espantar as cobras, que eram seu maior medo. “Eu sou do interior, mas tenho medo dessas coisas, meu maior medo era cobra”, revela a mãe de Rufino.
Rufino ficou três dias com os irmãos menores sem saber onde estava a mãe e esperando as águas passarem. Quando o encontramos no dia 18 de julho, um mês depois das enchentes, Rufino ainda trabalhava como uma formiguinha, tirando sozinho a lama de sua casa que chegou atingir um metro de altura. Ele disse que agora só falta limpar o telhado da casa para que voltem para o local onde moravam.  
Maria e seu filho Rufino perderam tudo da e agora vivem com doações que chegam. Eles sobrevivem agora num ambiente coletivo, em que o barulho é constante, o mau cheiro toma conta do lugar e com apenas uma cama, um colchão e a geladeira, única coisa que conseguiram salvar. Mas Maria revela que não quer ficar assim por muito tempo: “Não queria nada, nem roupa, nem nada. Porque se eu vivia com pouco antes da cheia, como é que agora eu quero viver com muito? Eu só queria o meu sossego, sair daqui e ir pra minha casa: Isso não é vida de ninguém não” diz Maria chorando. 

Recomeço
Enquanto estávamos fotografando o centro da cidade de Murici, que mais parecia um cenário daqueles que vemos em filmes de guerra, encontramos Maria de Lurdes de Deus Ferreira, 17 anos, sua mãe Maria José, 49 anos e os filhos de Lurdes, Derick Luan, 2 anos, e Dalisson Werick de apenas 10 meses. Eles estavam indo para casa, na rua da Floresta – a mesma onde o Rufino morava – levando num carrinho de mão algumas roupas velhas distribuídas pelo exército.
A casa, ainda úmida, e com marcas de água até o teto, estava cheia de roupas velhas espalhadas por todos os cômodos. Apesar do número grande de roupas, estas não os serviam, eram muito grandes e as crianças ainda ficavam quase nuas e descalças devido a falta de donativos voltados para as crianças. Como o colchão ainda estava molhado e o chão, tanto da casa, como da rua, cheio de lama, todos eles pegaram frieiras, e os dois filhos de Lurdes ficaram seriamente doentes. O quintal da casa, apesar de todo o trabalho no último mês ainda está cheio de água e lama.
Eles souberam da cheia um pouco antes, às 16h da sexta-feira, quando um homem desconhecido passou avisando: “quem tiver criança vá embora daqui, vai chegar muita água daqui a pouco. Vem muita coisa descendo aí.” Mas elas acharam que seria uma experiência como as outras, em que a água não subiu mais que a altura dos joelhos.
Maria Patrícia, 20 anos, irmã de Lurdes e mãe de Saniele Lauane, que não tinha sequer 2 meses de vida, não quis saber de esperar,  “estava chovendo, botei a pequeninha no braço, peguei a sombrinha e fui. Meus vizinhos ficaram três dias em cima das casas. Algumas casas caíram”, disse Patrícia.
Lurdes e Patrícia que estavam doentes havia vários dias e não estavam se alimentando direito, ficaram com bastante medo. Lurdes levou primeiro um dos filhos e depois voltou para levar o outro, já Patrícia levou logo a bebê. Elas foram para a casa do irmão, que fica na Usina São Simeão “porque é longe do rio”. Quando elas saíram, pouco mais de 17h, a água já estava próximo ao joelho. “A água já tava na perna”, diz Lurdes mostrando a perna e a altura da água na parede.
A mãe de Lurdes ficou tentando salvar os móveis e só foi embora pra a Usina
às 18h com mais pessoas da família. Elas disseram que à 1h da madrugada outras pessoas na chegaram Usina dizendo que faltava um metro para a água cobrir as casas e que a situação estava horrível, com coisas descendo rio abaixo com força da água. Sua cachorra Cristina, não se sabe com a ajuda de quem, passou sete dias em cima da casa, comendo restos deixados pelas águas.
Com três dias matriarca da família tentou voltar para ver a situação da casa.”O medo é que ela estivesse caído”, diz Maria José. Eles perderam coisas que ainda estavam pagando com sufoco como o armário da cozinha. Também perderam o berço do bebê que haviam comprado há menos de um mês. “Até a caixa d’água que estava em cima da casa foi levada pela água,” lamenta Maria. Os adultos voltaram para casa com 15 dias e as crianças só voltaram quando estava um pouco mais limpo. “Se é possível chamar de limpo”, fala Lurdes.
A família de Lurdes não recebeu nenhuma doação para a casa, como colchão. Mas toda semana eles recebem roupas e uma cesta básica por semana. Eles têm um quarto cheio de roupas, mas a maioria não as serve. As roupas são distribuídas sem seleção e na casa há crianças e jovens: mas eles recebem roupas apenas para adultos mais velhos, só dona Maria mãe as aproveita. Eles acabam passando para outras pessoas.

Vida provisória
Longe do rio estava família de Carla Taíse da Silva, de apenas 12 anos. Ela, seus pais, Carlos Henrique, 33 anos, e Maria José da Conceição, 28 anos além de seus irmãos Claudemir Henrique, 11 anos, Charles Henrique, 9 anos, Cleberson Eduardo 4 anos e Carlos Eduardo de 3 anos, estavam num complexo de barracas de lona montadas pelo Corpo de Bombeiros.
Na barraca deles tinha roupas quatro colchões de solteiro que eles ganharam. Eles também recebem comida três vezes ao dia, mas não sabem quando vão sair das barracas. “Ninguém chegou para dizer ainda quanto tempos vamos passar aqui”, dissea Maria, mãe da Carla.
Eles saíram de casa quando a água estava no joelho, mas não deu tempo de tirar nada. “Tudo foi muito rápido”. Mas mesmo assim, Maria José disse que não queria sair de casa na sexta. “A gente perdeu a casa da gente, não queria sair porque ficamos desabrigados, com tanta criança. Eu não pensava em nada, não pensava no perigo, não dá pra pensar em nada,” disse Maria José.
Eles disseram  que durante a noite é tranqüilo ficar na barraca, mas que durante o dia, devido ao calor, não há condições disso, “a quentura é demais”, dizem Maria e Carla. Apesar de existe torneiras perto do local, Maria José ainda não sabe ainda como vai fazer para lavar roupa, “aqui é ruim pra lavar pano. Também é ruim pra tomar banho; não tem onde separar. Quando a gente vai tomar banho, o pessoal fica olhando, aí tem que tomar banho de roupa,” disse Carla com os olhos negros e confusos.
Todos os adolescentes com quem conversamos, sejam aqueles de olhos azuis de paciência de uma formiga que trabalha diariamente como os de Rufino, sejam os olhos de mel de medo de Lurdes, sejam os olhos negros e confusos de Carla, estudavam nos mesmos colégio. Não se conheciam, mas tinham o mesmo destino naquela sexta-feira, 18 de junho. Foram expulsos de suas casas com as águas do Rio Mundaú batendo nos joelhos; esperaram durantes três dias as águas baixarem enquanto estavam ilhados e agora estão apenas esperando se alguma ajuda divina ou humana é capaz de tirá-los da bagunça, da sujeira e dos olhos curiosos daqueles que se aproveitam do momento para ver seus corpos enquanto tomam banho.



*** Matéria publicada na Revista Viração Nº64, Agosto de 2010. também disponível para dowload.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Reparação Social


A diretora do Núcleo de Estudos Afrodescendentes Brasileiros (NEAB), fala sobre as ações realizadas para cotistas

Avanny Oliveira, do Virajovem de Maceió (AL)

Em julho de 2009, um processo movido pelo Partido dos Democratas (DEM), com a finalidade de garantir a declaração de inconstitucionalidade de todas as leis sobre sistemas de cotas raciais aplicadas no país, abriu a discussão sobre o sistema no Brasil.
O sistema de cotas é destinado não somente para afrodescendentes, mas também para pardos provenientes de escolas públicas. A decisão está sendo aguardada por mais de 60 instituições de ensino do país; entre federais, estaduais e particulares; que têm implantado o Programa de Políticas de Ações Afirmativas. O sistema de cotas é uma política legal, contemplada pela constituição de 1988. A diretora do Neab, a historiadora Clara Suassuna comenta sobre o assunto.

Quando surgiu o NEAB e qual o objetivo dele?
O Neab surgiu nos anos 80, mais precisamente no ano de 1981, quando foi criado o primeiro núcleo da Universidade de Alagoas. Primeiro era um centro de pesquisa e hoje é um núcleo de estudos afro-brasileiros. O Núcleo de Estudos, é direcionado a questões afrodescendentes. Ele teve um papel junto com o Movimento Negro muito interessante na década de 80, com o reconhecimento da Serra da Barriga, a 100km de Maceió,  e a história do Quilombo dos Palmares nesta questão de atribuir a identidade afro-brasileira, como primeira republica de africanos, de fato, liberta, do Brasil
O Neab está junto nesta história, da questão da identidade afrobrasileira, não só em Alagoas, mas em todo o símbolo, num conjunto de lutas nacionalmente. Isso veio a partir de colaborações e iniciativas de pesquisadores da universidade junto com as organizações civis da sociedade.

O que são Programas de Ações afirmativas?
A partir de 2001, quando o Brasil se auto-declara um país racista; o país se compromete politicamente a fazer ações afirmativas para amenizar disparidades de todas as formas de discriminação, seja ela xenofóbica (medo do desconhecido, outras culturas, por exemplo), homofóbica (discriminação a homossexuais), contra a mulher, a judeus e etc. Em 2003 temos a questão de envolver a história do afrodescendentes nas disciplinas da escola e em seguida vem a questão da cultura indígena. Por exemplo, a gente desconhece as palavras que são utilizadas na língua portuguesa que nem nos damos conta, como por exemplo: vatapá,  naná (dormir), mimi, galalau, bambambã, palavras que a gente usa aqui em alagoas e que devemos ensinar os meninos, essa influencia afro, assim como devemos estudar outras culturas.
É você incluir quem está fora, retratando, e dando oportunidade a quem esta fora, isso é um Programa de Estado. Nós somos formados dentro de uma sociedade racista e preconceituosa e temos que começar este processo que vai demorar anos. As políticas de ações afirmativas são um ‘ponta-pé’ inicial.
As políticas de ações afirmativas, não é um programa de um governo. É um processo de retratação histórica.

Este programa é só destinado a negros?
Todo mundo fala de cotas, mas o programa envolve formação de professores, envolve conhecimento e capacitação, atendimento aos alunos. Além da cota, é um programa bem mais amplo, existe a permanência do alunos dentro da universidade, que envolve a ampliação de um restaurante universitário, ampliação de dormitórios.

Quando foi implantado o sistema de cotas na Universidade Federal de Alagoas? E como ele vem sendo recebido?
O nosso programa foi implantado pelo CONSUNI (Conselho Superior Universitário), da Ufal, em 2003, em 2004 preparamos o vestibular, em 2005 os primeiros alunos ingressaram na universidade vindos de escolas publicas e auto-declarados pretos ou pardos e nosso programa terá validade até 2014. O nosso programa está vinculado a escola publica, o que não significa que os alunos de escola publica não possa fazer o vestibular normal. O sistema de cotas não é um presente, os meninos passam pelo mesmo processo seletivo.
Nós fizemos um programa aqui na Ufal, que ao que me parece diferencia de outros projetos espalhados pelo Brasil, que as universidades têm a liberdade de fazer seu próprio programa dentro de sua realidade. Nós oferecemos 60% (dos 20% de vagas destinadas a cotas) das vagas para mulheres, e 40% para homens, o porquê disto é que percebemos que a mulher entra menos na universidade porque muitas das vezes ela é quem cuida da família, dos filhos e ela quem fica com as responsabilidade de cuidar da família, então ela estuda menos.

O aluno cotista, quando entra na universidade recebe educação diferenciada?
O aluno cotista, na hora que ele entra na universidade, os professores não tem acesso a estas informações, a não ser que o aluno queira se auto-declarar cotista, na pagela não tem essa divisão, nós aqui do Neab sabemos, porque trabalhamos junto com a Copeve (Comissão Permanente do vestibular) da Ufal.

O que diferencia o sistema de outros do Brasil?
Normalmente o aluno que vinha das escolas públicas escolhiam a área de humanas, por ser considerada uma área fácil, e com a implantação destes programas os alunos estão tendo um incentivo maior para buscar as áreas de saúde e engenharias.
O nosso sistema difere do de Brasília, porque lá existe uma comissão que entrevista o candidato e diz se ele tem direito a cotas ou não. Nós temos um documento, legal, que o candidato se auto-declara, em um processo de formação que leva o aluno a pensar, de onde eu venho, quais as minhas origens e como eu me auto-declaro.
Alunos que tiverem os últimos 3 anos de escolas públicas, consecutivos tem direito a cotas.

Quantos alunos tiveram acesso a universidade por este sistema?
Desde 2005 até os dias de hoje, foram 3022 alunos cotistas. Sendo que em 2005 entraram apenas 192 e agora em 2010 entraram 766, mostrando um crescimento gradativo.

A que se deve este crescimento?
Os alunos começam a conhecer o programa através das escolas, há uma maior divulgação. A gente percebeu que os alunos de escolas públicas não têm coragem de se inscrever no vestibular por se achar incapaz de passar. Pensam que a universidade é lugar pra gente rica, que eu não vou passar e etc. Com este programa de ações afirmativas o aluno tem coragem de se inscrever em um vestibular. Hoje temos alunos que tiram os primeiros lugares, este tabu vem sendo quebrado. Este é um modo de fazer alguma coisa pela escola enquanto ela não melhora.

E quando este aluno entra na universidade, em alagoas, há algum programa de incentivo?
Sim, o aluno pode se inscrever em bolsas, onde o professor orienta e o aluno fica tutelado, em uma pesquisa. Nós tivemos, por exemplo,  de 2005 a 2007 um programa do Ministério da Saúde chamado “Afroatitude”, ligado a Pró-reitoria de Extensão. Em 2009 até o final de 2010 estamos com o Programa Odé Ayê (para todos), para professores e alunos cotistas, com projetos específicos de pesquisa de campo, onde vão trabalhar durante um ano.  Neste ano foram aprovados 14 projetos, dentro deste programa.
Aqui na Ufal temos uma linha de publicação específica chamada Kulé-kulé, um livro em formato de revista, publicada a cada 2 anos, com artigos científicos produzidos por alunos e professores coma temática afrobrasileira. Este ano será lançado um livro sobre a cultura. Esta publicação é mais destinada a professores de ensino médio, nós doamos para as escolas públicas. No ano passado a gente tinha pelo menos um livro em cada biblioteca do Estado. Só temos mil livros, o que é pouco, mas a gente tenta fazer o máximo que se pode fazer.
 
Tá na mão:
ü Se você se interessou pela publicação kulé-kulé ela está disponivel para baixar e ser usada como ferramenta de ensino, através do site: www.ideario.org.br
ü  O blog do Neab é: www.nucleo.ufal.br/neab
ü  Informações sobre o núcleo: neabufal@hotmail.com


*** Matéria publicada na Revista Viração Nº63, Junho/Junho de 2010. também disponível para dowload.